Sonho Olímpico Vs. Sono Olímpico

"Tínhamos o direito a pedir-lhes mais? Sim, porque o Comité Olímpico de Portugal conseguiu a proeza de assinar com o Governo um contrato estipulando previamente o número de medalhas a alcançar. No espírito dos dirigentes olímpicos portugueses a vitória não é uma probabilidade, mas uma certeza contratualizada. Pensávamos nós que o espírito olímpico significa que participar é mais importante do que vencer. Na versão portuguesa, ganha-se antes de participar."

Miguel Gaspar, jornalista, PÚBLICO, 21/08/2008

Vai daí que contas feitas: duas honrosas e plenas de mérito medalhas olímpicas. O que é bom! Agora o que não pode em momento algum existir é desrespeito à bandeira (parece retirado de discurso salazarista) e faltas ao "contractualizado" (parece que já levávamos medalhas apalavradas, pelo menos em erário público). Acusar alguns so called atletas de delapidação do erário público = espoliação do dinheiro dos contribuintes? Claro!

E aqui ficam os melhores, os cabecilhas. Esses "saltinbancos" que durante quatro anos se treinaram à custa de bolsas e se foram (passear) a Beijing:

#1, Marco Fortes: "Eu já me convenci que, de manhã, no meu caso, só é bom para ficar na caminha”. Pérola maior de qualquer flash interview. Foi no calor do momento? Nada como ler as declarações que ele fez antes de aquecer: "No último mês, grande parte dos principais candidatos fez as suas melhores marcas. Já tiveram o seu pico de forma mais alto e agora até poderão estar no pico descendente". Como se não bastasse: "O meu maior desejo é que os atletas com melhores marcas estejam de rastos e que não possam com o peso na sexta-feira, que durmam mal, comam qualquer coisa que lhes faça mal, que não queiram ir para a pista, coisas assim". Além de humorista de primeira apanha está embutido do mais profundo espírito desportista (fairplay não é para aqui chamado).

#2, Jessica Augusto: "Agora vou de férias. Treinei para os 3000 obstáculos. Não vou aos 5000 metros. As africanas são fortes. Não vale a pena lutar contra elas. Elas correm para 14m11s e eu para 15m22s. Por isso...", justificou. Este "por isso..." Mata-me! Por isso... vou assobiar para o lado e ver a caravana passar! É inacreditavel.

#3, Arnaldo Abrantes: "Entrar neste estádio cheio bloqueou-me um pouco. Acabei a prova fresco, o que é estranho". Para quê um gajo se chegar a cansar?! Tanta organização chinesa e nem um estádio vazio para eu poder estar à vontadinha, de preferência sem cronómetro! Acho que era menino para ganhar essa prova sem espinhas. Agora assim? Please.

#4, Vânia Silva: "Estava bem, fiz o aquecimento bem. A única explicação é que, infelizmente, não sou muito dada a este tipo de competições". Sai outro estádio vazio por favor! É dada a que tipo de provas? "Saltos de cú pra pixa?!" (Nunca pensei utilizar esta expressão em público).

Muito fortes estes nossos "menos Olímpicos".

Uma palavra também para:

Telma Monteiro - criticar arbitragem?

Naide Gomes - dois saltos nulos e outro em passinhos de bébé até saltar?

Francis Obikwelu - desistir sem correr os 200 metros?

Aqui vai o (um) exemplo: Rosa Mota, que se considera "decepcionada". “Não por não ganharmos nada, mas pela maneira como reagem os atletas e pelas desculpas que eles dão. É preciso parar de procurar desculpas e correr!”